Nas duas últimas semanas a imprensa nacional destacou diversas notícias sobre a intoxicação causada pela contaminação das Cervejas Belorizontina e Capixaba, fabricadas em Minas Gerais pela Cervejaria Backer. As investigações conduzidas pela polícia mineira e pelo Ministério da Agricultura indicam que a provável causa é a substância dietilenoglicol (DEG) encontrada em alguns lotes destas marcas de cerveja, através de confirmações por análise laboratorial. Contudo, o Ministério da Agricultura ainda está analisando outras marcas produzidas pela mesma cervejaria, pois há suspeita de que também estejam contaminadas.
Até o momento, ocorreram quatro mortes, sendo uma com causa confirmada pelo consumo da cerveja contaminada e as outras três ainda sob investigação. Além disso há mais de dez pessoas com sintomas da intoxicação internados em hospitais de Minas Gerais.
O dietilenoglicol (DEG), que possui como sinônimos etileno glicol, glicol etil éter, diglicol, 2,2`oxidietanol, 2,2`diidroxietil éter, é um composto químico classificado como perigoso se ingerido ou inalado. É um líquido claro, higroscópico e sem odor, miscível com água e solventes polares tais como os alcoóis.
Possui diversas aplicações no setor industrial, tais como: intermediário químico nas indústrias de resinas poliéster insaturadas, e como agente plastificante e lubrificante para muitos produtos naturais e sintéticos; também como solvente em óleos de usinagem, nas formulações de tintas de impressão e tintas industriais e em formulações de anticongelantes.
Nas cervejarias é comum e necessária a utilização de agentes anticongelantes misturados ao líquido de resfriamento que é utilizado para baixar a temperatura do mosto durante o processo de fabricação da cerveja, nas etapas de fermentação e maturação. Embora este líquido de resfriamento não entre em contato com a cerveja em nenhuma etapa do processo, pois circula em sistema fechado nas paredes dos equipamentos ou em serpentinas, acidentes podem ocorrer e por essa razão as cervejarias devem utilizar somente anticongelantes certificados e não tóxicos. Não é o caso do dietileno glicol!
Um dos agentes anticoagulantes mais utilizados pelas cervejarias é o propileno glicol, inclusive em chopeiras que também são manuseadas pelos consumidores. Ao contrário do DEG, o propileno glicol é seguro, mesmo em casos de contato acidental com o alimento ou bebida. Ainda assim, é uma substância química e todas a medidas de prevenção e controle também devem ser tomadas para evitar qualquer contaminação dos alimentos e bebidas em processamento
O caso da contaminação das cervejas produzidas na cervejaria Backer em Minas Gerais alerta para a importância do cumprimento das normas sanitárias e implementação de programas de certificação da qualidade e segurança na produção de alimentos e bebidas. Exemplos são as normas ISO 22000 e FSSC 22000 que incluem um Sistema de Gestão em que requisitos de segurança são definidos e monitorados a fim de garantir a produção de bebidas seguras. Envolvem todas as etapas da cadeia produtiva, desde a produção no campo até a mesa do consumidor.
Por meio deste Sistema uma cervejaria pode controlar seus fornecedores, seu processo e também as condições de transporte e distribuição de seus produtos até que cheguem ao consumidor, a fim de garantir que as bebidas produzidas não causarão nenhum tipo de dano à saúde do consumidor final. A garantia da qualidade e da segurança dos produtos fabricados por uma indústria depende de parâmetros bem estabelecidos e de um ciclo permanente de monitoramento, registro, correção de falhas e verificação de todo o sistema.
Professora Claudia Verdum Viegas, Me.
Coordenadora do Curso de Engenharia de Alimentos - FAHOR
FOTO: Folhapress.