Respirar é vida, respirar um ar de qualidade é fundamental, inclusive no trabalho. O ar presente em ambientes fechados é diferente daquele encontrado no ambiente externo. Assim, é possível que em muitos lugares a umidade e a temperatura do ar no ambiente de trabalho estejam inadequadas, talvez por excesso de calor ou de frio, ou o ar estar muito seco ou úmido.

A qualidade do ar é de extrema importância para o desenvolvimento das atividades laborais do trabalhador, sendo que uma climatização deficiente pode gerar um grande desconforto e problemas de saúde. Dessa forma, um bom sistema de climatização deve ser mantido, pois uma boa condição do ambiente de trabalho apresenta um papel fundamental no bem-estar e no desempenho dos trabalhadores.

No entanto, para muito além da temperatura e da umidade, em determinados ambientes de trabalho, como laboratórios e indústrias pode existir a presença de compostos químicos, que constituem um risco do tipo químico. Os riscos químicos devem ser levados muito a sérios, pois podem gerar problemas irreversíveis a saúde, podendo se dispersar pelo ar sob as seguintes formas: poeiras, fumos, névoas, gases, vapores, que estão dispersos no ar na forma de aerossóis e também podem ocorrer na forma de neblina. Além disso, esses poluentes químicos se disseminam na atmosfera interior através dos mecanismos de condicionares de ar, sendo responsáveis pela poluição dos ambientes fechados.

Outro risco de grande destaque e que está diretamente ligado a climatização dos ambientes internos, é o risco biológico. Atualmente, a incorreta limpeza dos filtros e dutos de ar condicionado proporciona o desenvolvimento e propagação de vírus, fungos, ácaros e bactérias, que podem levar os trabalhadores a contraírem doenças respiratórias, infecciosas ou alérgicas. 

Uma climatização eficiente é fundamental para a saúde do trabalhador, e este tema é tão relevante, que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) definir o termo Síndrome dos Edifícios Doentes (SED), para designar o quadro clínico de quem trabalha nesses ambientes, sendo considerável o aumento dos casos da alergia, rinite, asma, gripes, sinusite e outras relacionadas a qualidade do ar no interior dos ambientes.

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Falando especificamente do COVID-19, até hoje, 05 de abril de 2020, os cientistas não sabem ao certo se o vírus pode ser transmitido pelo ar. No entanto, as recomendações são de que medidas preventivas devem ser tomadas mesmo assim, pois sabe-se que as gotículas de saliva são formas potentes de transmissão, podendo resistir por dias em algumas superfícies. Segundo o estudo: Aerosol and Surface Stability of SARS-CoV-2 as Compared with SARS-CoV-1, o Coronavírus pode flutuar em gotículas de aerossol por até 3 horas e permanecer infeccioso. Além disso, outro estudo: Transmission Potential of SARS-CoV-2 in Viral Shedding Observed at the University of Nebraska Medical Center, indicou a presença do RNA do vírus em ambientes isolados amais de dois metros de distância de pacientes que estavam infectados, o que indica que o vírus se propaga pelo ar. Ainda nesse sentido, outro estudo: Aerodynamic Characteristics and RNA Concentration of SARS-CoV-2 Aerosol in Wuhan Hospitals during COVID-19 Outbreak, apresenta que durante a higienização de superfícies contaminadas com o vírus, o RNA viral volta a ser suspenso no ar na forma de aerossol, podendo levar à infecção de pessoas saudáveis.

Dessa forma, a preocupação com a qualidade do ar nos ambientes internos nunca esteve tão em alta, mostrando-se ser um fator fundamental de controle da contaminação biológica. Assim, o ideal é que no ambiente laboral ocorra não somente a climatização, mas também a renovação do ar, nesse sentido, talvez seja mais adequado o uso de climatizadores ao invés de ar-condicionado, visto que estes equipamentos mantém a temperatura homogênea e ao mesmo tempo realizam a troca constante do ar. Lembrando que o distanciamento entre as pessoas é fundamental para evitar a disseminação do vírus.

Assim, podemos ressaltar que a climatização do ambiente laboral é uma questão de saúde, pois envolve diretamente a propagação de riscos químicos e biológicos, sem falar em questões ligadas ao conforto térmico, como temperatura e umidade do ar, que afetam diretamente a ergonomia do local. Dessa forma, uma análise ergonômica do trabalho poderia adequar o ambiente de trabalho de acordo com os padrões das Normas Regulamentadoras, nesse sentido o Engenheiro de Segurança do Trabalho é o profissional que apresenta os conhecimentos mais adequados para construção desse documento.

Ressaltando que em casa a ventilação também é muito importante, principalmente para manter o ar circulando, com janelas abertas por algum período durante o dia, visto que a renovação do ar é fundamental para diminuir o risco de contaminação biológica.  Vale lembrar que, neste momento em que muitas pessoas estão em suas casas, trabalhando em home office, ou mesmo em quarentena, os cuidados com a qualidade do ar dentro de casa também é necessária e importante.

 

Escrito por:  Vódice Feisther, professor da FAHOR, Engenheiro de Alimentos, Doutor em Química e Especialista em Engenharia de Segurança do Trabalho